a Câmara de Vereadores, homenageia o prefeito e expõe para a população que no Conde, Câmara e Prefeitura caminham lado a lado — e o povo não tem vez nem voz

Política

O aniversário do prefeito Anísio Oliveira, comemorado recentemente, revelou um detalhe simbólico, mas profundamente político: o gestor foi homenageado e presenteado com uma foto oficial em que aparece lado a lado com todos os vereadores no plenário da Câmara Municipal. À primeira vista, o gesto pode parecer apenas uma demonstração de cortesia institucional. No entanto, a imagem traduz algo mais profundo — e preocupante: a ausência total de independência entre os poderes no município do Conde.

Na prática, a foto representa a fusão entre Executivo e Legislativo, um retrato literal daquilo que a democracia tenta evitar: a submissão de um poder ao outro. No Conde, a separação entre os poderes simplesmente não existe. Câmara e Prefeitura caminham juntas, em sintonia quase absoluta, o que enfraquece a função fiscalizadora dos vereadores e coloca em risco o princípio básico do equilíbrio institucional.

A grande vantagem, ironicamente falando, de quem mora no Conde é viver numa cidade onde não há diferença entre prefeitura e Câmara — tanto faz um quanto outro, porque ambos funcionam como uma única voz política. O problema é que, quando o Legislativo se torna extensão do Executivo, o povo perde a representação e a cidade perde o debate.

Esse alinhamento automático faz com que qualquer decisão da Prefeitura, seja boa ou ruim, tenha o apoio imediato da Câmara, sem questionamento ou análise crítica. Projetos são aprovados sem resistência, ações controversas passam sem discussão, e temas sensíveis — como turismo, educação, transporte e gestão pública — acabam sendo tratados com silêncio conveniente.

Em uma cidade que vive desafios sociais e estruturais, a ausência de oposição e de fiscalização é um sinal grave. A Câmara, que deveria ser o espaço da pluralidade e da cobrança, torna-se palco de aplausos e fotografias, enquanto as demandas reais da população ficam em segundo plano.

No fim das contas, o registro do prefeito ao lado dos vereadores vai muito além de uma lembrança de aniversário: é o retrato político de um município onde o poder se concentra e a democracia se dilui. Quando todos caminham na mesma direção — sem debate, sem contraponto e sem autonomia —, o povo deixa de ter lado, voz e esperança.

jornalista Lenilson Silva

Deixe uma resposta