Novo medicamento para diabetes tipo 2 chega às farmácias em maio e já levanta dúvidas sobre uso para emagrecimento rápido
Por
Marcella Centofanti, em colaboração para Marie Claire — de São Paulo (SP)
Aprovado no Brasil para o tratamento do diabetes tipo 2, o Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, chega às farmácias brasileiras nesta primeira quinzena de maio e chama atenção também por sua ação sobre o apetite e a perda de peso. O remédio, à base de tirzepatida, é aplicado uma vez por semana por meio de um dispositivo semelhante a uma caneta.
O fármaco já está sendo utilizado antes mesmo de ter a venda liberada no país, por meio de pessoas que o trazem do exterior. Com o aumento da procura e da curiosidade sobre seus efeitos, há um alerto: o uso fora das indicações pode trazer riscos desnecessários.
“Quando a gente dá um remédio para quem não tem obesidade ou diabetes, os riscos não se justificam”, afirma a endocrinologista Simone van de Sande Lee, membro do Departamento Científico da Abeso.
A seguir, conheça as respostas para algumas das principais dúvidas sobre o funcionamento, os efeitos e as contraindicações do novo medicamento.
O que é o Mounjaro e como ele age no organismo?
O Mounjaro é um medicamento injetável à base de tirzepatida. Essa molécula imita a ação de dois hormônios produzidos naturalmente pelo nosso corpo: o GLP-1 e o GIP. Por um lado, ele estimula o pâncreas a produzir insulina e facilita o controle nos níveis de açúcar no organismo — assim, atua como um remédio para diabetes.
Em outra frente, age no sistema nervoso central para reduzir o apetite, diminuir a velocidade com que o estômago se esvazia após as refeições e aumentar a saciedade, contribuindo para a perda de peso.
Para quais condições o remédio foi aprovado no Brasil?
Por enquanto, o Mounjaro foi aprovado no Brasil apenas para tratamento de diabetes tipo 2. No entanto, em outros países, como nos Estados Unidos, a mesma substância é liberada também para o tratamento da obesidade, sob o nome comercial Zepbound.
As doses disponíveis começam em 2,5 mg e podem ser aumentadas gradualmente até 15 mg, conforme a resposta clínica e a tolerância de cada um.
Quais são os efeitos colaterais mais comuns?
As reações adversas mais frequentes são náusea, constipação, diarreia e, em alguns casos, vômito. Elas costumam ser temporárias e surgem principalmente no início do tratamento.
“Quando usamos o remédio corretamente, em doses crescentes e com acompanhamento médico, esses sintomas geralmente são leves a moderados”, explica Lee. Fármacos e orientações nutricionais — como evitar refeições gordurosas — ajudam a evitar desconfortos.
Comparado à semaglutida, os efeitos colaterais são semelhantes, segundo os estudos. No entanto, algumas pessoas dizem se adaptar melhor ao Mounjaro do que ao Ozempic. “Não é raro a tirzepatida ser mais bem tolerada, mas isso não é regra”, disse a Marie Claire o endocrinologista Renato Zilli, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês.
O Mounjaro será coberto por planos de saúde?
Ainda não há garantia de cobertura pelos convênios, pois o fármaco não está no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No Brasil, tratamentos para obesidade não costumam ser reembolsados, à exceção da cirurgia bariátrica. No entanto, dependendo do plano e da justificativa médica, pode haver reembolso.
É preciso fazer mudanças na alimentação e nos exercícios ao usar o Mounjaro?
Sim. Nenhuma intervenção para obesidade ou diabetes funciona isoladamente. “O remédio é um aliado, mas a base do tratamento continua sendo a mudança no estilo de vida. Alimentação saudável e exercício são fundamentais, mesmo quando o peso não muda tanto”, reforça Lee.
Há riscos no uso prolongado do Mounjaro?
Os estudos clínicos que embasaram a liberação da tirzepatida acompanharam pacientes por anos e não identificaram eventos adversos graves fora dos efeitos já esperados. Mas a médica ressalta que todo medicamento novo exige vigilância contínua.
Por que sua venda terá retenção de receita?
A Anvisa determinou que o Mounjaro só poderá ser vendido com receita médica retida, medida que visa restringir o uso indiscriminado. Isso deve ampliar a disponibilidade do produto para pacientes com indicação real, evitando a escassez que ocorreu com outros medicamentos do mesmo tipo, como o Ozempic.