Pesquisas eleitorais: como funcionam e por que nem sempre acertam resultado final

Alagoinhas Política

Ao contrário do que o senso comum pode sugerir, pesquisas eleitorais não servem para prever o resultado da eleição. O objetivo dessas pesquisas é apenas medir a intenção de voto no momento em que são feitas as entrevistas. Como o eleitor pode mudar de ideia até a hora de entrar na cabine de votação, nada garante que uma pesquisa feita meses, semanas, ou mesmo dias antes, terá o mesmo resultado que o computado pela Justiça Eleitoral.

Mas como pesquisas que entrevistam algumas centenas de pessoas podem ser bons termômetro de como os eleitores estão pensando em votar?

Esse conjunto de pessoas entrevistadas é chamado de amostra. Para que esse grupo represente bem todo o universo de eleitores é preciso que ele reproduza a composição e a distribuição do eleitorado.

No caso de Alagoinhas, a população é heterogênea. Há diferenças, por exemplo, entre o perfil dos eleitores e eleitoras que moram no Barreiro, no Estevão ou em outros bairros e distritos da cidade. Há também diferenças entre os que são católicos, evangélicos, ateus ou seguem outras religiões, ou mesmo entre homens e mulheres, jovens e idosos, e também entre os que têm maior ou menor renda.

Dessa forma, para que uma mostra, por exemplo, de quinhentos pessoas entrevistadas meça bem a intenção de voto dos eleitores é preciso que sua composição reflita essa heterogeneidade.

Por meio de dados, sabemos que mulheres são 53% dos eleitores e homens, 47%. Uma pesquisa precisa, portanto, não pode entrevistar 55% de homens e 45% de mulheres. É necessário seguir a distribuição de gênero da população na sua amostra.

No mesmo sentido, esse levantamento vai entrevistar muito mais pessoas no Miguel Velho do que em outras localidades, porque ali se encontra a maior fatia do eleitorado do candidato A ou B. Mas não basta que o instituto entreviste uma quantidade maior qualquer neste bairro.

O estatístico Neale Ahmed El-Dash, que estudou métodos de pesquisa durante seu doutorado na USP e é fundador da empresa Polling Data, usa a seguinte metáfora para explicar como a amostra funciona.

“Um risoto tem vários ingredientes diferentes: sei lá, você botou gorgonzola, cebola, tem o próprio arroz, tem sal, algum outro tempero. Então, se você simplesmente colocou tudo ali na panela, uma coisa em cima da outra (sem misturar), ao pegar uma colherzinha de qualquer lugar, você não vai conseguir sentir o sabor real daquele prato. Agora, se você misturou bem misturadinho, na hora que você pegar uma colher de qualquer lugar, vai estar com o sabor do risoto gostoso”, exemplifica.

“Então, se você consegue misturar direitinho toda a população e pegar uma colherada, você vai ter uma amostra que representa bem (todos os eleitores)”, compara.

Pesquisas sérias sempre informam o perfil da amostra. É possível checar essa composição no site do TSE, no qual os institutos precisam registrar o questionário que será aplicado antes de ir a campo.

Margem de erro

Agora, mesmo que a amostra esteja bem “misturadinha”, como explicou El-Dash, não é possível garantir que o seu resultado é um retrato exato da intenção de voto.

Na verdade, se forem retiradas diferentes amostras de um mesmo universo, ainda que com as mesmas composições sócio-demográficas, seus resultados podem variar.

É por isso que toda pesquisa possui uma margem de erro e um nível de confiança que indicam qual o nível de precisão do resultado da pesquisa.

Segundo El-Dash, quanto maior a amostra, maior sua precisão para medir a opinião da população pesquisada (no caso das pesquisas eleitorais, o total de eleitores). Isso significa que levantamentos com amostras maiores têm margem de erro menor. No entanto, a partir de um determinado número de entrevistas, esse ganho de precisão, medido por uma fórmula matemática, já fica menos relevante.

“Uma amostra de mais de dois mil entrevistados, por exemplo, geralmente já não tem um custo benefício que vale a pena porque é caro fazer uma amostra maior e o ganho de precisão é pequeno”, diz ele.

Para saber se uma pesquisa é confiável, portanto, não adianta comparar seu resultado com o saldo final das urnas. O que os especialistas recomendam é que o eleitor busque comparar pesquisas de diferentes institutos, pois a tendência é que pesquisas bem feitas por diferentes empresas mostrem cenários semelhantes nos rumos das intenções de voto.

Por outro lado, quando um instituto de pesquisa traz resultados muito “fora da curva” dos demais, aí é sinal de que algo pode estar errado no levantamento.

Em Alagoinhas, pesquisas realizadas desde 2016 não mostraram a realidade apresentada após a abertura das urnas.

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